quarta-feira, dezembro 16, 2009

Copa 2010: a marca para 10 milhões de turistas.

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Conhecida como Friendly City (Cidade Amigável), Port Elizabeth fica na Baía de Nelson Mandela, na Wild Coast ou Costa Selvagem batida pelos ventos, província do Cabo Oriental.

• O aeroporto mais próximo: Port Elizabeth Airport ou PEA
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sexta-feira, dezembro 11, 2009

França pretende devolver afrescos ao Egito

-França pretende devolver afrescos ao Egito

07/10/2009 - 16:44 - Reuters


PARIS (Reuters) - A França está disposta a devolver ao Egito cinco fragmentos de afrescos pintados em tumbas antigas, que foram adquiridas pelo museu do Louvre entre 2000 e 2003, disse na quarta-feira o ministro francês da Cultura, Frederic Mitterrand.

O Conselho Supremo para Antiguidades do Egito pediu à França a devolução dos murais. Após prolongadas discussões entre as duas partes, Mitterrand disse ter convocado uma reunião do comitê científico francês de museus para tratar do tema na sexta-feira. Em nota, o ministro disse que se receber aval do comitê está disposto a devolver os afrescos imediatamente.

Uma convenção de 1970 da Unesco (órgão da ONU para educação e cultura) prevê medidas contra a exportação ilegal de tesouros nacionais.

Mitterrand disse que os cinco murais foram adquiridos de boa fé pelo Louvre, e só em 2008 surgiram dúvidas sobre a sua proveniência, com a descoberta da tumba da qual eles aparentemente foram retirados.

Zahi Hawass, principal arqueólogo do Egito e diretor do Conselho Supremo para Antiguidades, teria dito à agência estatal de notícias Mena que o conselho deixou de cooperar com o Louvre até que os murais sejam devolvidos.

Extraído de Ultimo Segundo

Para mais:

Pedra de Roseta poderá ir para o Egito


A fila para apreciar a Pedra de Roseta, no Museu Britânico, pode acabar, se a Pedra for emprestada ao Egito

(Rosetta Stone row 'would be solved by loan to Egypt')

BBC NEWS
Published: 2009/12/08 21:31:55 GMT

O chefe de antiguidades do Egito vai colocar como necessidade o retorno definitivo da Pedra de Roseta, caso o Museu Britânico aceite fazer o empréstimo, ele diz.

A Pedra - uma pedra de basalto que remonta a 196 A.C. que foi chave para decifrar os hieróglifos – está no Museu Britânico desde 1802.

O Dr. Zahi Hawass há muito tem solicitado aos museus estrangeiros para retornarem as seis das mais valiosas antiguidades do Egito.

O Museu Britânico afirmou que vai considerar o pedido de empréstimo em breve.

Uma porta-voz disse que nenhum pedido oficial foi feito pelo Egito para o retorno definitivo da Pedra, mas o empréstimo tinha sido discutido e será analisado pelos curadores do museu "muito brevemente".

Dr. Hawass disse que enquanto quer que a Pedra volte ao Cairo definitivamente, ele iria se contentar com o fato de o Museu Britânico aceitar seu pedido para um empréstimo de três meses.

Ele havia escrito ao museu pedindo que a Pedra fosse disponibilizada temporariamente para a abertura do Grande Museu do Egito, em Gizé, em 2013, disse. Outros museus europeus receberam pedidos semelhantes.

Ele disse que a resposta de alguns museus tem sido "não boa", com perguntas sobre como eles poderiam garantir que os artefatos serão devolvidos no final dos empréstimos.

"Não somos piratas do Caribe. Nós somos um país civilizado. Se eu assinar alguma coisa eu o farei", disse ao correspondente da BBC Nick Higham.

"Temos o direito de mostrar nossos monumentos."

A Pedra de Roseta, descoberta no Egito por soldados franceses em 1799 e entregue aos ingleses, nos termos do Tratado de Alexandria, dois anos depois, é um dos mais importantes itens que Dr. Hawass pensa em ser devolvido de imediato.

O que a torna tão importante é que ele contém o mesmo texto em hieróglifos egípcios, em outra escrita antiga do Egito e em grego antigo.

A presença da tradução grega significa que pela primeira vez foi possível utilizar a Pedra para decifrar e compreender hieróglifos.

No mês passado (novembro 2009), os arqueólogos egípcios viajaram ao Museu do Louvre, em Paris, para recolher cinco fragmentos de afresco antigo roubados de uma tumba no Vale dos Reis, em 1980.

Dr. Hawass também solicitou o retorno de outros bens culturais considerados de grande valor arqueológico para o Egito. Isso inclui o busto de 3.500 anos de idade da rainha Nefertiti, mulher do famoso faraó Akhenaton, em exposição no recém reaberto Neues Museum, em Berlim, Alemanha.

Outros itens em sua lista de favoritos incluem uma estátua de Hemiunu, o arquiteto da Grande Pirâmide de Gizé - também na Alemanha; o busto de Anchhaf, construtor da Pirâmide Chepren - no Museu de Belas Artes de Boston; um Zodíaco pintado a partir do templo de Dendera, que é mantido no Museu do Louvre, e a estátua de Ramsés II no Museu de Turim.

Desde que se tornou chefe do Conselho Supremo de Antigüidades, em 2002, Hawass clama pelo retorno de 5.000 artefatos para o Egito, que ele afirma terem sido roubados.

Milhares de artefatos foram suprimidos do Egito durante o período da dominação colonial e mais tarde pelos arqueólogos, aventureiros e ladrões.

Conforme o acordo das Nações Unidas de 1970, obras de arte são de propriedade de seu país de origem e peças contrabandeadas para fora devem ser devolvidos.

O Egito também requer itens que foram roubados antes dos tempos indicam essas práticas ilegais como evidentes. No entanto, o processo para determinar se um item é fruto de roubo pode ser trabalhoso e complicado.

BBC NEWS

E nós, de Memorial Lélia Gonzalez, dizemos: Como se tudo o que se refere à antiguidade dos povos - e que está na Europa (ou nas Américas) - não tenha sido, por evidência (óbvia e redundante), fruto de roubo imperialista!

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A presença da tradução grega possibilitou
que fosse possível utilizar a Pedra de Roseta
para decifrar e compreender hieróglifos.
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terça-feira, dezembro 08, 2009

OCDE prevê crescimento do continente africano

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OCDE prevê crescimento do continente africano

José Vicente Lopes
Correspondente da BBC na Cidade da Praia
07 Dezembro, 2009

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, OCDE , acredita que a economia africana deverá retomar o crescimento, ainda que de forma moderada, em 2010.

A conclusão faz parte do estudo anual "Perspectivas Econômicas na África", cuja edição de 2009 foi apresentada este fim-de-semana na capital cabo-verdiana.

Em relação a Cabo Verde, o estudo considera que este arquipélago conseguiu, apesar das dificuldades, manter a cabeça fora de água.

A crise financeira internacional afectou África de forma diversa e contraditória. De acordo com o estudo da OCDE, ainda que marginal, o continente africano não deixou de ser afectado pela crise, variando o impacto de país para país.

Laura Recuerto Virto, que apresentou o referido estudo, salienta que o impacto decorreu sobretudo da redução de exportação do petróleo.

A crise financeira, de natureza bancária, praticamente passou ao lado do continente africano.

Cabo Verde é precisamente um dos países que, bem ou mal, conseguiu manter a cabeça fora de água, apesar da redução do fluxo turístico em direcção a este arquipélago, bem como da diminuição do investimento directo estrangeiro.

Reação

Reagindo aos dados apresentados pela OCDE, Paula Cruz, do Ministério das Finanças de Cabo Verde, realça que o país apresenta dados que o deixam numa situação relativamente confortável, quando comparado com outras economias africanas.

Este relatório da OCDE surge numa altura em que internamente os atores políticos discutem os atuais níveis de crescimento de Cabo Verde.

Para 2009 e 2010, os dados apontam para um PIB entre 4 e 5 %, bem aquém dos dois dígitos prometidos pelo executivo de José Maria Neves para esta legislatura.

O governo justifica tal desempenho com os impactos da crise em sectores como o turismo e imobiliário, que se retraíram.

Já a aposição alega que o governo tem utilizado a crise para se desculpar perante os cabo-verdianos face aos compromissos que assumiu para esta legislatura que caminha para o fim.

Fonte: BBC - UK
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segunda-feira, dezembro 07, 2009

Ruanda é o primeiro país livre de minas terrestres

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Ruanda é o primeiro país livre de minas terrestres

2 de Dezembro de 2009

Ruanda foi declarada livre de minas terrestres - o primeiro país a alcançar esse status. O anúncio foi feito na Cimeira de Cartagena para um Mundo Livre de Minas, na Colômbia.

Centenas de pessoas foram mortas e horrivelmente feridos por minas terrestres no País. Minas terrestres foram plantadas no território, entre 1990 e 1994, em Ruanda e nos últimos três anos, mais de mais de 9.000 foram destruídas por soldados ruandeses.

Ben Remfrey da Grupo de Consciência sobre Minas (Mines Awareness Trust), que supervisionou o levantamento, diz que embora outros países tenham tido muito mais minas “plantadas”, este é um passo significativo. "Ruanda fez história ao se tornar o primeiro país do mundo a ser declarado livre de minas terrestres", disse ele à BBC World Service. "Ruanda teve um problema, não eram muitas, mas, de todo modo, era uma quantidade significativa ... e teve um grande impacto social e econômico".

Terras escassas

As minas terrestres têm sido devastadoras para Ruanda, pois impediu que muitas pessoas fossem capazes de viver em suas terras.

Considerando que 80% da população ganha a vida através da agricultura e Ruanda é o país mais densamente povoado da África, a terra já é escassa.

Nteziyaremya Alphose, um agricultor de 40 anos, que vive em uma aldeia ao norte de Kigali, tinha minas em sua fazenda. Dois adultos perderam as pernas e uma criança e uma vaca foram mortos, em sua fazenda. Agora, sua terra está limpa. Ele diz que os membros de sua família são capazes de crescer o suficiente para produzir alimentos para si próprios.

"Agora, posso usar cada pedaço da minha terra, sem me tornar uma vítima de minas terrestres; o meu gado pode pastar nesta terra e eu não corro o risco de perdê-lo", diz ele.

Destruindo as minas

As minas foram localizadas e retiradas por soldados ruandeses que foram especialmente treinados no Quênia no Centro de Formação para Ação Internacional contra Minas (International Mines Action Training Centre).

Cento e oitenta soldados foram envolvidos no processo de depuração em que foram examinados e limpos 20 campos minados em três anos.

As minas foram neutralizadas ou destruídas após serem encontrados por pessoal qualificado.

Para ser declarada livre de minas terrestres, Ruanda tinha de satisfazer as condições do Tratado de Otawa sobre Minas. Ele estipula que não só um país tem de garantir que sua terra está livre de minas, mas também que destruiu seus estoques de minas terrestres.

A “Mines Awareness Trust” disse que todos os estoques ruandeses foram destruídos, quer por queima ou explosões controladas, garantindo que esses itens nunca poderão ser utilizados novamente.

Um cão treinado de uma equipe de Cães de Detecção de Minas fez uma verificação final de todos os terrenos vistoriados e limpos manualmente para que a terra pudesse ser listada conforme as normas internacionais. Em termos globais, 1,3 milhões de metros quadrados de terra foram testados e limpos.

Gareth Thomas, Ministro Africano do Departamento de Desenvolvimento Internacional, que fundou o programa, disse que este projeto foi importante para o Ruanda. "Isso significa que os ruandeses dessas áreas são agora capazes de cultivar a terra", ele disse ao programa Today, da BBC Mundo.

A convenção para Proibição de Minas, mais conhecida como Convenção de Otawa, entrou em vigor há 10 anos. Seu objetivo era ajudar a livrar o mundo das minas terrestres no solo, bem como as minas armazenadas pelos países. Desde então, um total de 165 Estados ratificaram a convenção e da produção de minas cessou em 38 países. Mas, de acordo com as estimativas do Monitor de Minas, mais de 160 milhões de minas estão nos países não signatários da Convenção e 13 estados ainda estão produzindo minas ou garantindo o direito de fazê-lo.

Fonte: BBC-UK

Para mais:
Campanha Brasileira Contra as Minas Terrestres e Bombas Cluster



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Blog Nota 10. Seleção até 15 de janeiro.

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A Revista África e Africanidades está promovendo um concurso que selecionará os melhores Blogs do Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

Com a chamada “Você possui um blog que valoriza e divulga os aspectos artísticos, históricos e culturais da população negra?”, o concurso vai selecionar os três (3) melhores Blogs em duas categorias:
  • “Blog Nota 10 – África e Africanidades”
  • “Blog do Professor Nota 10 África e Africanidades”
Poderão se inscrever blogs em duas categorias, a saber:
  • Blog de pessoas físicas dos seguintes países: Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe
  • Blog de professores da educação básica em todo o território brasileiro
As inscrições , iniciadas em 15 de outubro de 2009, ficam abertas até 15 de janeiro de 2010. Para se inscrever, o responsável pelo blog deve enviar um e-mail para promocoes@africaeafricanidades.com com a ficha de inscrição preenchida.

Clique sobre o nome para acessar:

recebido de
Nágila Oliveira dos Santos
Diretora / Editora
Revista África e Africanidades

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domingo, dezembro 06, 2009

Computadores descartados pela Europa envenenam crianças na África

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Computadores descartados pela Europa envenenam crianças na África

DER SPIEGEL - Clemens Höges - 05/12/2009

Os cidadãos do Ocidente jogam fora milhões de computadores velhos todos os anos. Centenas de milhares deles acabam na África, onde as crianças procuram ganhar a vida vendendo peças velhas das máquinas. Mas os elementos tóxicos presentes no lixo as estão envenenando lentamente.

Segundo a Bíblia, Deus lançou uma chuva de fogo e enxofre para destruir as cidades de Sodoma e Gomorra. E as autoridades governamentais de Accra, em Gana, também passaram a chamar de "Sodoma e Gomorra" uma parte da cidade afetada por produtos tóxicos de um tipo que os moradores das cidades bíblicas jamais poderiam imaginar. Ninguém vai a esse local, a menos que isso seja absolutamente necessário.

Uma fumaça ácida e negra passa sobre os barracos da favela. As águas do rio também são pretas e viscosas como óleo usado. Elas carregam gabinetes de computador vazios para o oceano. Nas margens do rio veem-se fogueiras alimentadas por isopor e pedaços de plástico. As chamas consomem o material plástico de cabos, conectores e placas-mãe, deixando intactos apenas o metal.

Hoje há um vento que faz com que a fumaça dessas fogueiras infernais passem lentamente por sobre a terra. Respirar muito profundamente é doloroso para os pulmões, e as pessoas que alimentam as fogueiras às vezes dão a impressão de serem apenas silhuetas vagas e enevoadas.

Uma figura pequena e curvada caminha entre as fogueiras. Com uma mão, o garoto arrasta um alto-falante velho pela terra e as cinzas, puxando-o por um fio. Com a outra mão ele segura firmemente uma bolsa.

O alto-falante e a bolsa são as únicas posses do garoto, além da camiseta e as calças que ele usa. Ele tem um nome incomum: Bismarck. O garoto tem 14 anos, mas é pequeno para a idade. Bismarck vasculha a terra em busca de qualquer coisa que os garotos mais velhos possam ter deixado para trás após queimarem uma pilha de computadores. Podem ser pedaços de cabo de cobre, o motor de um disco rígido, ou peças velhas de alumínio. Os ímãs do seu alto-falante também capturam parafusos ou conectores de aço.

Bismarck joga tudo o que encontra dentro da bolsa. Quando a bolsa estiver cheia até a metade, ele poderá vender o metal e comprar um pouco de arroz, e talvez também um tomate, ou até mesmo uma coxa de galinha grelhada em uma fogueira acesa dentro do aro de um carro velho. Mas o garoto diz que hoje ainda não encontrou o suficiente. Ele desaparece novamente na fumaça.

O refugo da era da internet

Esta área próxima a Sodoma e Gomorra é o destino final dos computadores velhos e outros produtos eletrônicos descartados de todo o mundo. Há muitos lugares como este, não só em Gana, mas também em países como Nigéria, Vietnã, Índia, China e Filipinas. Bismarck é apenas um de talvez uma centena de crianças daqui, e de milhares do mundo inteiro.

Essas crianças vivem em meio ao refugo da era da internet, e muitas delas podem morrer por causa disso. Elas desmancham computadores, quebrando telas com pedras, e a seguir jogam as peças eletrônicas internas em fogueiras. Computadores contêm grandes quantidades de metais pesados e, à medida que o plástico é queimado, as crianças inalam também fumaça carcerígena . Os computadores dos ricos estão envenenando os filhos dos pobres.

A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que até 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são jogadas anualmente no lixo em todo o mundo. O custo para se reciclar apropriadamente um velho monitor CRT na Alemanha é de 3,50 euros (US$ 5,30 ou R$ 9,20). Mas o envio do mesmo monitor para Gana em um contêiner de navio custa apenas 1,50 euro (R$ 3,80).

Um tratado internacional, a Convenção de Basiléia, entrou em vigor em 1989. O tratado baseia-se em um conceito justo, proibindo os países desenvolvidos de enviarem computadores que foram para o lixo aos países subdesenvolvidos. Até o momento 172 países assinaram a convenção, mas três deles ainda não a ratificaram: Haiti, Afeganistão e Estados Unidos. Segundo estimativas da Agência de Proteção Ambiental norte-americana, cerca de 40 milhões de computadores são descartados todos os anos somente nos Estados Unidos.

Diretrizes da União Europeia com acrônimos como WEEE (sigla em inglês de Lixo de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos) e RoHS (Restrição a Substâncias Perigosas) seguiram-se à Convenção de Basileia, e países individuais transformaram-na em lei. As leis relativas à administração de lixo na Alemanha estão entre as mais estritas do mundo, e neste país o envio de computadores descartados a Gana pode dar cadeia. Em tese.

Um negócio milionário

Recentemente o governo alemão mobilizou-se para verificar como é a situação na prática. Especialistas da Agência Federal do Meio Ambiente alemã ainda estão redigindo um relatório que será divulgado nas próximas semanas, mas as conclusões já são conhecidas - há sérias brechas no sistema de reciclagem do país. Segundo o estudo, firmas de exportação da Alemanha enviam 100 mil toneladas de aparelhos elétricos descartados a cada ano para os países subdesenvolvidos, o que é bem mais do que os especialistas temiam.

"Este é um negócio milionário. Não se trata de algo que possa ser classificado como crime pequeno", afirma Knut Sander, do instituto ambiental Ökopol, com sede em Hamburgo. Ele foi o autor do estudo, que exigiu meses de pesquisas. Por causa das suas investigações ele recebeu avisos de que deveria tomar cuidado com a sua segurança.

Ele não teve que ir longe do seu escritório para observar a atividade dessa indústria de exportação. "O Porto de Hamburgo é importante", explica Sander. "Aquilo que não sai por Hamburgo é embarcado em Antuérpia ou Roterdã."

Sander descobriu negociantes pequenos que enviam contêineres esporádicos ou alguns carros velhos cheios de computadores. Às vezes há centenas desses carros no terminal de O'Swaldkai, em Hamburgo, de onde os navios saem para a África. Há também grandes empresas enviando cargas de lixo tóxico - as chamadas companhias de remarketing, que coletam centenas de milhares de eletrodomésticos velhos todos os anos. Essas companhias têm autorização para revender computadores que estejam funcionando, mas são obrigadas a reciclar as máquinas defeituosas. E algumas delas sabem muito bem quanto dinheiro podem economizar enviando esses computadores inúteis para Gana.

A tarefa de deter essa exportação de lixo deveria ficar a cargo de uns poucos funcionários da alfândega e da guarda portuária. Mas quando os agentes ocasionalmente abrem um contêiner, eles estão provavelmente pedindo para ter dores de cabeça nos tribunais. As leis não definem o que seja um computador descartado, e é legal exportar computadores usados. Só não se pode exportar as máquinas descartadas. Um computador que está quebrado, mas que talvez ainda pudesse ser consertado, pode ser considerado lixo? E quanto a um computador de 20 anos de idade, que não consegue mais rodar um único programa? Quando há dúvidas, os juízes dão ganho de causa aos exportadores.

Entrando no inferno

Bismarck só sabe que todos os computadores exalam mau-cheiro, tenham eles dez ou 20 anos de idade, e não importando se sejam fabricados pela Dell, a Apple, a IBM ou a Siemens. Quando eles queimam, a fumaça faz com que a sua cabeça e garganta doam. As cinzas pegajosas grudam em cada poro e ruga, e provocam coceiras. Manchas aparecem na pele de Bismarck, mas ele sabe que não pode coçá-las porque a poeira tóxica entraria nas feridas abertas.

Bismarck consegue ainda se lembrar da sua vila, que fica perto de Techiman, mais ou menos no meio do país. Lá não há eletricidade, e as paredes dos casebres são feitas de terra.

O pai dele desapareceu quando Bismarck era pequeno, de forma que ele jamais pôde perguntar por que o homem lhe deu um nome tão estranho, que ninguém na vila havia ouvido antes. A mãe de Bismarck criou-o sozinha, até ter sido atropelada por um carro. Ela perdeu as duas pernas no acidente, e morreu pouco depois.

Uma tia adotou Bismarck, mas havia pouca comida para todos. Finalmente um garoto mais velho da vila lhe falou sobre Accra, e sobre um lugar entre o mercado Agbogbloshie e a favela Sodoma, onde até mesmo um menino de dez anos de idade seria capaz de ganhar dinheiro suficiente para comprar comida. O adolescente de 16 anos também lhe falou sobre os computadores e a fumaça, e que ele teria que ser forte.

Pouco tempo depois, os dois garotos foram embora da vila, viajando de ônibus e depois de trem. O mais velho tinha dinheiro para as passagens porque já havia trabalhado em Sodoma.

Um euro por dia

Bismarck aprendeu as regras rapidamente. Existe uma hierarquia, e todo garoto pode tentar galgar essa estrutura. Os homens jovens, de cerca de 25 anos de idade, controlam as grandes balanças de ferro velho que ficam com frequências nos locais onde se podem ver marcas de pneus na cinza que cobre a terra. Quando a sacola de Bismarck fica cheia até a metade após um dia perambulando em torno das fogueiras, ele pode vender o material recolhido para esses homens por cerca de dois cedis ganenses, o equivalente a cerca de um euro ou US$ 1,50 (R$ 2,60).

Aqueles que são um pouco mais novos, com cerca de 18 anos de idade, possuem carrinhos de mão feitos com tábuas e eixos de carros velhos. Eles seguem para a cidade no início da manhã para coletarem computadores dos importadores de refugo e trazem o material de volta para a favela. Eles quebram os computadores e retiram os cabos, e depois jogam o que restou nas fogueiras ou vendem esse resíduos para garotos um pouco mais novos.

São principalmente esses garotos que carregam os montes de cabos plástico para serem queimados nas fogueiras. Um deles é Kwami Ama, que tem 16 anos e é um dos dois amigos de Bismarck aqui. Kwami tem um corpo forte e uma face redonda e de expressão honesta. Somente os olhos dele, altamente avermelhados devido à fumaça quando a noite cai, lhe dão uma aparência meio selvagem. As cicatrizes espalhadas pelas mãos foram provocadas pelas bordas afiadas de computadores quebrados e geladeiras velhas. Kwami arranca a camada de isolamento das geladeiras e as usa para acender as fogueiras,antes de jogar as peças de computadores no fogo. O isopor queima emitindo chamas violetas e verdes, com um calor suficiente para derreter até mesmo cabos dotados de produtos químicos retardadores de fogo no seu isolamento plástico.

Ao contrário de Bismarck, Kwami não consegue mais falar sobre a sua vida. "Fico triste com frequência", diz ele, embora esteja se saindo bem pelos padrões de Sodoma. Alimentar as fogueiras é a tarefa mais tóxica de todas, mas ele ganha dinheiro suficiente para alugar um local para dormir em um barraco de madeira em Sodoma. O barraco tem cerca de dois metros de largura por três de comprimento. Três garotos dormem dentro dele, dividindo o assoalho de madeira. Não há janelas no barraco, mas a porta tem um cadeado, o que lhes permite dormir em segurança - o que é um luxo em Sodoma.

Pobres contra pobres

Ao contrário do seu amigo, Bismarck tem medo da noite. Ele enrola-se no escuro como um cão e dorme encostado em uma parede de madeira em Sodoma, ou sobre as cinzas, ao lado de uma geladeira quebrada na área aberta onde ficam os eletrodomésticos quebrados. Às vezes ele dorme sobre as balanças. Ele muda o local de dormir com frequência. Bismarck tem apenas dois amigos aqui. No inferno, os pobres lutam contra os pobres.

Alguns dias depois, Bismarck teve um golpe de sorte ao encontrar uma grande quantidade de cobre, e o homem da balança pagou a ele sete cedis. Bismarck só gastou dois cedis, mas na manhã seguinte os outros cinco haviam desaparecido. Alguém usou uma lâmina para abrir o bolso de Bismarck quando ele dormia. Ele simplesmente ganha muito pouco. Bismarck consegue pagar pela comida ou por um local para dormir, mas não pelas duas coisas.

Bismarck também não pode passar a noite com os seus outros amigos. Danjuma tem 11 anos de idade e acredita que já está trabalhando aqui há vários anos. Os seus pais ainda são vivos, mas quatro outros irmãos dividem um barraco com ele em Sodoma, e não há espaço lá para Bismarck.

A mãe de Danjuma detesta ver o filho trabalhando nas fogueiras e desejaria que ele estivesse na escola. Mas a família precisa de dinheiro. Danjuma é o filho mais velho, e não se sabe quanto tempo mais ele será capaz de trabalhar efetivamente. Ele padece de dores frequentes no peito e nas costas.

Danjuma e Bismarck pertencem ao grupo mais jovem, de crianças entre 8 e 14 anos. Nem eles nem as meninas têm permissão para alimentar o fogo. Os garotos novos trabalham com ímãs, e as meninas trazem água em sacos plásticos, e às vezes comida, para os garotos mais velhos. "A gente tem que beber muita água", explica Kwami. O sol é escaldante, fazendo com que a temperatura à sombra seja de 30ºC. Mas não existe sombra em Agbogbloshie. Perto dali o plástico está queimando a uma temperatura de mais de 300ºC.


Encolhendo o cérebro

Kwami diz que se esqueceu de muita coisa, mas que ainda se lembra muito claramente de um certo dia do ano passado. Um grupo de indivíduos brancos veio até à área de ferro velho, o que é raro. Eles eram do Greenpeace. Um homem usava luvas e carregava pequenos tubos de ensaio. Ele coletou amostras da lama de um dos lagos formados pelo rio, e depois cinza e solo de vários locais diferentes na área.

O químico analisou as amostras quando voltou para casa, na Inglaterra, e os valores que obteve não foram bons. Ele descobriu concentrações elevadas de chumbo, cádmio e arsênico, bem como de dioxinas, furanos e bifenis policlorados.

O chumbo, para tomar como exemplo apenas um dos produtos químicos perigosos, provoca dores de cabeça e estomacais após uma breve exposição. No longo prazo, ele danifica o sistema nervoso, os rins, o sangue e especialmente o cérebro. Quando uma criança ingere chumbo através da água ou por inalação, o seu cérebro encolhe ligeiramente e a sua inteligência diminui. Cientistas da Alemanha ficam preocupados quando descobrem concentrações acima de um limite de 0,5 miligramas de pó de chumbo por metro cúbico de ar. O tubo de raios catódicos de um único monitor de computador contém cerca de 1,5 quilograma de chumbo. Muitas das outras substâncias encontradas pelos químicos no local também provocam câncer, entre outras doenças.

Contra-atacando

Mike Anane, um ativista ambiental e coordenador local da organização internacional de direitos humanos FIAN, trouxe os membros do Greenpeace para cá. Anane nasceu aqui há 46 anos, bem ao lado de onde hoje em dia se situa Agbogbloshie. Naquela época, as margens dos rio eram repletas de prados verdes e de flamingos, e os pescadores tiravam o seu sustento do rio. Agora não existe vida nessas águas.

Mike Anane luta contra a
importação maciça de sucata de computador

Oito anos atrás, Anane começou a perceber a chegada de uma quantidade cada vez maior de caminhões em Agbogbloshie, com as carrocerias repletas de computadores. Ele observou a situação de perto e passou a contra-atacar aquilo que viu. Anane coleta adesivos de procedência de vários computadores descartados para descobrir de quem são os venenos queimados aqui. Ele possui adesivos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, de autoridades britânicas e de companhias como o Banco Barclays e a British Telecom. "Algumas crianças daqui não chegarão aos 25 anos de idade", acredita Anane.

Ele sabe, porém, que as companhias e organizações cujos selos chegam aqui juntamente com os equipamentos descartados não são os agentes que de fato trazem esse lixo para o seu país. As pessoas diretamente envolvidas são comerciantes como Michael Ninicyi, diretor da Kofi Enterprise.

A Kofi Enterprise é uma pequena loja repleta de computadores. Os melhores produtos são velhas máquinas Pentium vendidas por US$ 90 (R$ 156), incluindo um leitor de DVD. Impressoras e copiadoras são exibidas sob uma cobertura amarela na frente da loja - todas as máquinas são provenientes da Alemanha, segundo Ninicyi. Um exemplar do jornal "Berliner Morgenpost", usado para proteção contra arranhões, encontra-se dobrado entre dois computadores. Algumas das máquinas ainda trazem os adesivos de companhias cujas sedes ficam, por exemplo, na pequena cidade alemã de Kleve, no Estado de Brandenburgo ou no de Rhineland. Todos esses produtos funcionam e são legais.

"Este negócio é bom para Gana"

Ninicyi usa calças com vincos, um colar de ouro e sapatos caros. Este é um homem que alcançou o sucesso. O seu inglês é excelente, ele fala bem e é capaz de se defender com sucesso - embora não sinta necessidade de fazer tal coisa. Na verdade, o que ele sente é o contrário.

Ninicyi compra os seus produtos exclusivamente de navios de contêineres provenientes de Hamburgo. "Os alemães simplesmente tomam mais cuidado com os seus equipamentos do que qualquer outro povo", explica. Ele não quer dizer exatamente quem são os vendedores. Ninicyi compra os produtos sem examiná-los, algo que é comum nesta atividade. Como parte dos seus cálculos de custos, os vendedores alemães fazem com que em cada contêiner haja alguns equipamentos que funcionem, bem como alguns que ainda podem ser consertados. O restante, cerca de 30%, é lixo, que Ninicyi repassa imediatamente aos garotos que vêm de Agbogbloshie com os seus carrinhos da mão. Contêineres vindos do Reino Unido trazem uma proporção muito maior de lixo.

"Este negócio é bom para Gana e para os outros países", assegura Ninicyi. Ele diz que sente pelas crianças, mas afirma que paga impostos, e os seus fregueses também e que o povo de Gana tem acesso a computadores de preço acessível.

Ninicyi conhece até uma teoria maior que faria com ele fosse visto como algo semelhante a um funcionário de ajuda de desenvolvimento. A teoria da "lacuna digital", originalmente desenvolvida na Universidade de Minnesota, afirma simplesmente que, como os pobres não têm acesso aos meios modernos de comunicação, e como é o conhecimento que cria prosperidade, as pessoas mais pobres continuarão ficando para trás e a lacuna se expandirá ainda mais. O fornecimento de computadores ajuda a reduzir essa lacuna.

Essa teoria tem alguns pontos fracos. Por exemplo, ela foi desenvolvida em 1970, três anos antes de um jovem estudante chamado Bill Gates sequer começar a estudar na Universidade Harvard. Há também uma segunda teoria da era da computação, a Lei de Moore, cujo nome é uma alusão a um dos cofundadores da Intel, que afirma que a capacidade de processamento dos computadores dobra a cada dois anos. Os criadores de softwares seguem a tendência, fazendo com que os computadores mais novos de hoje já estejam ultrapassados amanhã e prontos para serem mandados para Sodoma um dia depois.

"Por que vocês não interrompem o fluxo de lixo?"

"Esse processo está cada vez mais rápido, e nós estamos sendo esmagados", queixa-se John Pwamang, diretor do Centro de Gerenciamento e Controle de Produtos Químicos da Agência de Proteção Ambiental de Gana. A agência está localizada em um prédio de concreto em péssimas condições. A caminho do escritório de Pwamang, os visitantes precisam subir primeiro uma escada que no passado deve ter sido verde, e a seguir passar por um banheiro com defeito e uma sala de conferência de cortinas marrons esfarrapadas. Na sala há três depósitos de lixo - um marrom, para papel, um cinza, para plástico, e um outro marrom para tudo mais. Entretanto, o país não conta com um sistema de reciclagem de lixo em funcionamento. Ao que parece a agência de Pwamang ainda tem alguns problemas pela frente.

Os olhos de Pwamang são pouco visíveis por trás das grossas lentes bifocais. Ele fala suavemente, o que o ajuda a parecer mais tranquilo do que realmente é. "Vocês europeus não mudam", reclama ele. "O que deveríamos fazer com os produtos tóxicos que vocês nos mandam? Não temos como reciclá-los. Vocês possuem as instalações para isso. Computadores que funcionam não são nenhum problema, mas muitas das máquinas velhas demais não duram nem um ano aqui. Por que vocês não interrompem o fluxo de lixo?".


Pwamang não tem como provar que o chumbo e as dioxinas estão matando as crianças. Quase ninguém com mais de 25 anos trabalha nas fogueiras às margens do rio de águas pretas. E não existe estudo algum sobre o problema. O Greenpeace identificou e quantificou as toxinas, mas a organização não examinou os efeitos diretos delas. "As crianças estão doentes", afirma Pwamang. "Temos aqui metais pesados e venenos. Um estudo seria bom, mas mesmo sem nenhum estudo eu sei que a situação é desastrosa."

Sonhando em escapar

Mas, apesar de tudo, as crianças de Sodoma às vezes parecem se divertir. Os garotos mais velhos jogam futebol à noite em um espaço aberto entre as fogueiras, com dois vergalhões servindo de gol e monitores de computador vazios marcando as bordas do campo. Os jogadores correm e mergulham entre a fumaça das fogueiras. Eles não estão jogando apenas para se divertir, mas também por causa de seus futuros, já que muitos ganenses deixaram o país para jogar nas ligas profissionais no Ocidente. É um sonho meio louco, mas para muitos dos jovens daqui, um sonho é a única coisa que lhes permite escapar.

O amigo de Bismarck, Danjuma, tem o mesmo sonho, é claro. Ele adoraria treinar futebol, apesar das dores no peito. Mas ele não tem dinheiro para comprar uma bola. Mas talvez seja melhor assim já que, se corresse, ele teria que respirar profundamente a fumaça.

Tradução: UOL

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