terça-feira, agosto 31, 2010

Unesp assina acordo com universidades africanas


Unesp assina acordo com universidades africanas

24/8/2010

Agência FAPESP – A Universidade Estadual Paulista (Unesp) assinou um acordo de cooperação com cinco universidades africanas de língua portuguesa.

O objetivo do acordo, assinado na semana passada no encerramento do Seminário Brasil-África, é estimular o intercâmbio acadêmico, científico e técnico com universidades lusófonas.

Segundo a Unesp, o acordo envolve parcerias com as universidades Agostinho Neto (Angola), Lusófona de Cabo Verde, Lusófona da Guiné (Guiné Bissau) e Eduardo Mondlane e Universidade Pedagógica (as duas de Moçambique).

A concessão de bolsas de estudo para dois alunos de graduação de cada universidade africana por semestre foi uma das medidas anunciadas. Os acordos preveem ainda o intercâmbio de professores e estudantes, o desenvolvimento de projetos de pesquisa conjunta e a realização de eventos científicos.

Outras propostas incluem o reforço da capacitação do corpo docente e de servidores, colaboração na área de saúde com a realização de cursos de formação e treinamento a distância para profissionais da área, intercâmbios na área de empreendedorismo e inovação, promoção de estágios de curta duração e apoio a programas de pós-graduação das universidades envolvidas.

Mais informações: www.unesp.br

Extraído de Agência FAPESP
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quinta-feira, agosto 05, 2010

Golfo do México e Delta do Níger: tratamento desigual


Empresas petrolíferas contaminam manguezais do Níger

SÃO PAULO, 2 de julho de 2010 - A água do Delta do Níger, área de manguezais perto de Bodo, um dos diversos povoados desta região localizada no Golfo da Guiné na África ocidental, apresenta reflexos de arco-íris, devido ao petróleo que vaza dos oleodutos. Há décadas, esta região pantanosa e rica em hidrocarbonetos no sul da Nigéria, onde operam diversas multinacionais petroleiras, está contaminada por vazamentos. Entre 9 e 13 milhões de barris vazaram nos últimos 50 anos, segundo um estudo realizado em 2006 por especialistas nigerianos, americanos e britânicos.
Segundo eles, isso representa um vazamento a cada ano equivalente à mancha de óleo causada pelo naufrágio do "Exxon Valdez" no Alasca em 1989. É um desastre ecológico despercebido e, no entanto, mais grave que a atual catástrofe no Golfo do México, segundo as autoridades nigerianas.

Longe do primeiro plano da atenção da mídia, os 30 milhões de habitantes do Delta do Niger - região pobre apesar de abrigar oleodutos e milhares de poços de petróleo -, viu como seus recursos foram degradados com o passar dos anos.

O ar úmido durante esta estação chuvosa está carregado pelo odor fétido da gasolina, e uma espessa camada de óleo cobre a areia. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUE) efetua atualmente um estudo de impacto desta contaminação em Ogoniland, onde Bodo está localizado.

"Há centenas de lugares contaminados (...) entre eles alguns importantes por seu tamanho que representam uma séria ameaça para a saúde e o meio ambiente", explicou Michael Cowing, responsável pelo projeto. A expectativa de vida aqui é de 45 a 50 anos, e de 55 a 60 anos no restante do país, segundo as autoridades.

As informações são da Agência Brasil.
(Redação - Agência IN)
18:46 - 02/07/2010

Longe do Golfo do México, vazamentos de petróleo aterrorizam há 50 anos

Por ADAM NOSSITER
16 de junho
Fonte: The New York Times

Bodo, Nigéria – Os grandes derramamentos de óleo já não são mais notícia nesta vasta terra tropical. O Delta do Níger, onde a riqueza abaixo da terra contrasta de forma gritante com a pobreza na superfície, tem resistido ao derramamento de petróleo equivalente a um Exxon Valdez ao ano, há 50 anos, segundo algumas estimativas. O óleo vaza quase que semanalmente, e alguns manguezais encontram-se há muito sem vida.

Talvez nenhum lugar do mundo tenha sido tão maltratado pela exploração do petróleo, dizem especialistas, enquanto os residentes locais ficam impressionados com a atenção ininterrupta dada a um jorro separado por meio mundo de distância, no Golfo do México. Há apenas algumas semanas atrás, dizem, um cano estourado nos manguezais pertencentes à Shell foi finalmente fechado, depois do óleo ser deixado a vazar por dois meses: nada mais vive naquele mundo negro e marrom, que no passado era repleto de camarões e caranguejos.


Não muito longe, ainda se vêem manchas negras no Gio Creek, resultantes de um derramamento em abril passado, e do outro lado da divisa estadual, em Akwa Ibom, os pescadores amaldiçoam suas redes enegrecidas por óleo, duplamente inúteis em um mar estéril, fustigado por um derramamento em uma tubulação offshore da ExxonMobil ocorrido em maio e que durou por semanas.

O óleo é vomitado por tubulações enferrujadas e envelhecidas, e os vazamentos seguem ignorados por conta do que os analistas classificam como uma legislação ineficaz e fraudulenta, somada à sabotagem e à manutenção deficiente. Diante desta maré negra, os protestos são raros – segundo testemunhas, alguns soldados que cuidavam das instalações da ExxonMobil agrediram mulheres que protestavam diante da empresa no mês passado – e o que mais se vê é resignação e ressentimento.

Crianças pequenas nadam no estuário poluído, enquanto pescadores levam seus barcos cada vez mais longe. - "Não há nada que possamos pegar aqui", diz Pius Doron, empoleirado ansiosamente sobre o seu barco - e comerciantes caminham pelos córregos imundos. "Tenho óleo da Shell no meu corpo", diz Hannah Baage, saindo do Gio Creek com um facão para cortar os caules dos pés de aipim equilibrado na cabeça.

O fato de o desastre no Golfo do México ter paralisado um país e um presidente de quem o povo local tanto gosta é uma coisa admirável para os habitantes daqui, que vivem entre os estuários ladeados de palmeiras em condições tão abjetas quanto as que existem em qualquer outro lugar da Nigéria, de acordo com as Nações Unidas. Apesar de sua região contribuir com cerca de 80 por cento das receitas do governo local, toda essa riqueza em nada os beneficia; essa população tem a menor expectativa de vida de toda a Nigéria

"O presidente Obama está preocupado com aquela história" comenta Claytus Kanyie, um funcionário público local sobre o vazamento no Golfo, em pé dentro da lama oleosa do manguezal morto fora de Bodo. "Ninguém está preocupado com esta. A vida aquática que alimentava nosso povo está morrendo. O camarão simplesmente se foi. Não há mais nada."

À distância, a fumaça subia do que o Sr. Kanyie e ativistas ambientais dizem ser uma pequena refinaria clandestina operada por ladrões de óleo locais, protegidos, segundo eles, pelas forças de segurança nigerianas. O brejo se encontrava deserto e silencioso; sequer pássaros havia. O Sr. Kanyie afirma que, antes dos derramamentos, as mulheres de Bodo ganhavam a vida coletando moluscos e crustáceos entre os manguezais.

À luz das novas estimativas, que indicam que mais de 2,5 milhões de galões de petróleo podem estar sendo derramados diariamente no Golfo do México a cada dia, a história do Delta do Níger serve como antecipação para o que pode vir a acontecer nos EUA

Quinhentos e quarenta e seis milhões de galões de óleo foram derramados no Delta do Níger durante as últimas cinco décadas, ou quase 11 milhões de galões por ano, segundo conclusão de um relatório elaborado por uma equipe de especialistas para o governo nigeriano e grupos ambientalistas locais e internacionais, em 2006. Para comparação, o derramamento de Exxon Valdez, em 1989, despejou aproximadamente 10,8 milhões de galões de petróleo nas águas ao largo do Alasca.

Assim, a população local lança um invejoso, embora consternado, olhar ao desastre no Golfo. "Lamentamos por eles, mas isto é o que está acontecendo conosco há 50 anos ", disse Emman Mbong, um funcionário da cidade de Eket.

Os derramamentos são aqui ainda mais devastadores, porque esta região de pantanais ecologicamente delicada, fonte de 10 por cento do óleo importado pelos EUA, concentra a maioria dos manguezais da África, os quais, como a costa da Louisiana, têm alimentado o interior do país durante várias gerações com a sua abundância de peixes, crustáceos, animais selvagens e plantas.

Ano após ano, ambientalistas locais vêm denunciando a destruição, sem êxito. "Trata-se de um ambiente morto", disse Patrick Naagbanton, do Centro de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Desenvolvimento em Port Harcourt, a principal cidade da região de exploração petrolífera

Embora haja muita destruição, ainda restam grandes extensões de terra com vida exuberante. Ambientalistas dizem que, com um intenso esforço de restauração, o Delta do Níger poderia voltar a ser o que era.

A Nigéria produziu mais de dois milhões de barris de petróleo por dia durante o ano passado, e em mais de 50 anos milhares de quilômetros de pipelines foram assentados nos pântanos. A Shell, a maior exploradora, tem operações espalhadas por milhares de quilômetros quadrados de território, de acordo com a Anistia Internacional. “Árvores de Natal” enferrujadas brotam, improváveis, nas clareiras entre as palmeiras. De vez em quando, vaza óleo das estruturas abandonadas, mesmo em poços extintos.

"O petróleo estava simplesmente jorrando em fortes jatos", disse Amstel M. Gbarakpor, líder juvenil em Kegbara Dere, recordando o derramamento de abril no Gio Creek. "Foram necessárias três semanas para fechar o poço.”

Quanto desse derramamento se deve à ação de bandidos ou a atos de sabotagem realizados pela guerrilha ativa no Delta do Níger, e quanto decorre da falta de manutenção e tubos de envelhecimento, é objeto de feroz controvérsia entre as comunidades, os ambientalistas e as empresas de petróleo.

Caroline Wittgenstein, um porta-voz da Shell, em Lagos, disse que "nós não discutimos derramamentos isolados", mas argumentou que a "grande maioria” foi causada por sabotagem ou roubo, com apenas 2 por cento devidos a falha de equipamentos ou a erro humano. "Não creio que nos comportemos de forma irresponsável, porém operamos em uma região singular, onde a segurança e a ilegalidade são problemas sérios”, disse a Sra. Wittgenstein.

As empresas petrolíferas também alegam que limpam muito do que é perdido. O porta-voz da Exxon Mobil em Lagos, Nigel A. Cookey-Gam, disse que o último vazamento registrado pela empresa foi de apenas cerca de 8.400 litros, e que "estes foram efetivamente limpos".

Mas muitos especialistas e autoridades locais dizem que as empresas atribuem culpa às sabotagens para se eximir de suas responsabilidades. Richard Steiner, um consultor para derramamentos de óleo, concluiu em um relatório de 2008, que historicamente "a taxa de falhas dos oleodutos na Nigéria é muitas vezes superior à encontrada em outras partes do mundo", observando que mesmo a Shell reconhece que "praticamente todos os anos" ocorrem vazamentos devido à corrosão dos pipelines.

Na praia de Ibeno, os poucos pescadores que ali se encontravam exibiam um semblante sombrio. Durante semanas, um vazamento nos tubos da ExxonMobil espalhou óleo no mar aberto.. "Não sabemos onde pescar; o mar está cheio de óleo", disse Patrick Okoni.

Foto: Jane Hahn/New York Times

"A mídia internacional não nos dá cobertura, por isso ninguém se importa com o assunto", disse Mbong, próximo a Eket. "Nossos gritos não são ouvidos fora daqui."