quarta-feira, novembro 29, 2006

Fotos retraçam diáspora africana na América do Sul

Flavia Nogueira - de São Paulo - Atualizado às: 29 de novembro, 2006 - 08h57 GMT (06h57 Brasília)

O antropólogo Júlio César de Souza Tavares estará na abertura da exposição em Abuja

O início da Cúpula de Países da África e América do Sul vai contar com uma mostra de fotografias, "Diásporas Africanas na América do Sul: uma Ponte sobre o Atlântico", que marca a abertura da nova Embaixada do Brasil na Nigéria.

A mostra foi idealizada pelo Departamento da África do Itamaraty e pela Fundação Alexandre Gusmão, também do Itamaraty.
O antropólogo Júlio César de Souza Tavares - pesquisador e professor da Universidade Federal Fluminense - e o fotógrafo Januário Garcia viajaram durante cerca de um mês para retratar a permanência e as características da herança africana em comunidades afro-descendentes em sete países da América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai, Peru, Colômbia, Venezuela e Suriname. Os dois pesquisadores são expoentes do Movimento Negro Brasileiro.

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Desta viagem resultaram a mostra fotográfica que será aberta em Abuja e um livro-catálogo, em quatro idiomas, com lançamento previsto no Brasil em dezembro.

Na pesquisa, o antropólogo resgatou dados da presença africana em países como Argentina e Uruguai, onde desembarcaram milhares de africanos no porto do Rio da Prata. Também foi relatada a presença africana em países como Peru (música e culinária), Colômbia (com uma comunidade afro-descendente de 25% da população do país) e Venezuela (com os cumbes, semelhantes aos quilombos brasileiros).

Argentina e Uruguai

O professor afirma que o fato de as comunidades africanas e afro-descendentes não estarem associadas à Argentina e ao Uruguai faz parte das políticas de formação destes países.

“Na construção de Estados do Cone Sul foram mais privilegiadas as populações de origem européia do que as populações indígenas, nativas, ou aqueles que também emigraram – comos os europeus – mas numa condição compulsória, como foi o caso dos africanos”, afirmou.

“No caso da Argentina e do Uruguai são mais nítidos estes processos. Houve uma politica de invisibilização, de ocultamento destas populações, que vai desde a criação de uma linguagem em que a palavra negro ou africano não comparece de forma alguma – como é o caso da Argentina.”

Números

Tavares afirma que o Brasil – que hoje tem uma população de afro-descendentes de cerca de 48% segundo dados do IBGE – já chegou a 70% de africanos e afro-descendentes no século 19. Mas, com a imigração européia, o governo brasileiro da época investiu na idéia de mestiçagem.

“A idéia da mestiçagem (…) está sempre vinculada à idéia de se tornar menos negro, menos índio. Mestiço é aquele que, embora tenha sangue negro ou sangue índio, é o que mais se aproxima do branco”, afirmou.

O professor afirma que a estatística de cerca de 48% da população de africanos e afro-descendentes no Brasil tende a aumentar nos próximos censos.

“As pessoas estão começando a se assumir. Aqueles que se diziam mulatos, pardos ou até mesmo brancos, para esconder sua fachada afro-descendente, estão se assumindo (como negros) cada vez mais.”

Para o professor o aquecimento das relações diplomáticas e comerciais com países africanos é promissor.

“Tudo isso faz parte da ampliação de nossos horizontes como brasileiros (…). Acabar com esta visão paroquial, provinciana (…) de costas para a América Latina e para África, olhando para o norte, para a Europa e para os Estados Unidos.”

“A África estava abandonada do imaginário, da literatura, dos livros didáticos, da política externa, da cooperação econômica por muitos anos”, concluiu.
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